Engraçado é que não senti falta do beijo, do sexo, da conversa. Senti falta apenas de ter você ali me acompanhando em todas as minhas tarefas domésticas.
Estranho isso, não é?
Vive-se tanto tempo com uma pessoa e no final das contas não se sente falta do gosto, do toque, da pele, da voz, do cheiro, enfim, do relacionamento. Sente-se apenas falta da companhia imóvel, apática, inabalável, por muitas vezes irritante e estática.
Talvez eu esteja enlouquecendo ou quem sabe o meu egoísmo está mais aguçado hoje do que nos outros dias. Até porque de tudo que perdi ao de você me despedir, a única coisa que não posso ter é a acomodada companhia que a mim cabia estando ao seu lado.
É! Certamente é loucura. Não tem como ser algo diferente disso. Ninguém sente falta do que odiava. De certo eu estou passando por um estado de ausência de lucidez e profunda imersão no absurdo. Minha cabeça está tão agitada e tão instável que à medida que as horas passam sinto falta da única coisa que eu odiava em você, ou seja, essa sua imensa habilidade em não pensar e fazer nada. De ficar horas parado, sem falar e aparentemente sem sentir.
Deve ser bom não pensar e não sentir nada por longos espaços de tempo. Deve doer menos...