Minha cabeça tem andando confusa, dispersa, vagando entre
o que acha que é real e o que acha que é imaginário. É incrível como mesmo
diante dos olhos a realidade ainda que cruel possa ser ludibriada por um
sentimento de esperança alimentado por um amor doentio.
Doentio?
É. Doentio!
Não posso mais dizer que esse sentimento, mesmo que amor não
seja o nome mais adequado para ele, possa ser qualificado como saudável. Esse
sentimento dói, me machuca, me sufoca, me massacra, me destrói de diversas
formas possíveis e até inimagináveis.
Quando penso que superei você, a vida vem e me mostra que
não. Quando desisto de te superar, forças superiores me mostram que não sou eu
quem devo escolher o momento para isso e agora quando acho que tudo e todos
decidiram deixar minha vida seguir, você mesmo decide fazer com que eu me
lembre que ainda há algo bem intenso e muito vivo aqui dentro de mim.
Sinceramente, não sei mais o que eu vejo ou o que eu
imagino. Não distingo o que é sensato ou insano. O pior é que não sei se estou
perdida assim pela irrefutável constatação de que você é tão ruim e comum como
qualquer outro ou pelo fato do que sinto se manter inabalado mesmo diante de
tamanha decepção.
Eu fiquei decepcionada, devo confessar. Estou com raiva.
Muita até. Isso abalou minha autoestima, mais uma coisa a confessar aqui, com
as palavras. Afinal, as palavras ainda são um bom refúgio. Nelas continuo a nos
tratar como um “nós”. Nas palavras nós existimos e nelas eu encontro até o
alívio do desabafo. Quem sabe um dia eu encontre a habilidade para nas palavras
fazer com que nós dois possamos, ao menos, literariamente, nos dar prazer.
Hoje, não. Minha autoestima ainda está abalada. Ainda estou
a pensar que se tu pecas como os outros, qual o motivo de nunca ter pensado
sequer pecar comigo?
Não sou boa o suficiente? Magra? Gorda? Alta? Baixa? Real?
Será que você me nota?
Na verdade, eu tenho essa resposta. Para você, eu
simplesmente não sou.