quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Confissão

Eu tenho medo do medo que sinto.
Medo de dizer isso em voz alta.
Eu tenho medo da solidão.
Medo de admitir que gosto mais de ficar sozinha, mas que não quero acabar sozinha.
Eu tenho medo de parecer forte demais quando na verdade sou frágil e só quero ser cuidada.
Medo de chegar lá  na frente e achar que não vivi a vida do jeito certo, que poderia ter sido mais feliz, mais plena.
Eu tenho medo de fazer errado achando que estava certa.
Medo de não ter humildade para reconhecer que errei e sabedoria para pedir desculpas.
Eu tenho medo das doenças que chegam sem avisar e não vão embora sem deixar marcar.
Medo da idade biológica chegar mais rápido do que as próprias rugas.
Eu tenho medo desta certeza gritante de que fiz grandes escolhas erradas.
Medo do fato de persistir nestes erros tão nítidos e idiotas.
Eu tenho medo do tempo. Como eu tenho medo do tempo!
Medo de que por ter tanto medo da sua passada rápida eu acabe ficando parada aqui sem fazer nada.
Eu também tenho medo da violência,  da crise e do caos cotidiano.
Mais eu tenho mais medo do abismo dentro de mim.
Eu tenho medo da morte, principalmente por ela me lembrar que pode tirar de mim aqueles que amo.
Medo da total falta de oportunidade que nos deparamos quando chegamos ao fim, mesmo sem querer.
Eu tenho medo de perder toda a audição e nunca mais me deixar levar pela emoção de uma melodia.
Medo de não poder ouvir o eu te amo daquela pessoa especial.
Eu tenho medo das curvas muitos fechadas.
Medo de cair dos saltos muito altos.
Eu tenho medo de admitir em voz alto que eu não te amo e talvez nunca tenha amado.
Medo de admitir que mesmo sendo ilusório,  o desejo por alguém que não existe é o sentimento mais vivo que arde em mim na última década.
Eu tenho medo do ódio do muito.
Medo da raiva que eu não controlo em mim.
Eu tenho medo de não ser o que as pessoas que eu amo esperam que eu seja.
Medo de falhar comigo mesma.
O que eu não tenho é calma.
Não tenho paz.
Eu não tenho equilíbrio.
Não tenho você e, definitivamente, não tenho nem a mim mesma.