Na verdade, dizer que acordei é errado, o mais adequado seria dizer que abri os olhos e me movimentei. Não sentia, não falava, não queria nada, apenas desejei cumprir minhas obrigações e fechar os olhos novamente. Tive, por um momento, a remota ideia de que se eu voltasse a fechar os olhos poderia, em seguida, de fato acordar para a vida.
Quem sabe, ao fechar meus olhos, eu volte a enxergar as cores e a sentir algo diferente da dor?Quem sabe um sono profundo e tranquilo faça com que eu pare de sentir pena de mim?
Pena do enorme tempo que eu perco tentando me entender, tentando entender os outros, tentando conquistar coisas, pessoas e lugares. Pena do vazio que trago no coração, da ausência cortante dos sentimentos quentes, calorosos e excitantes. Pena desta insatisfação tão intrínseca ao meu ser, tão enraizada, tão profunda e tão presente.
Muitas das vezes cheguei a acha essa insatisfação um combustível, algo que me movesse, que me estimulasse a sentir-me motivada para seguir em frente. Hoje já tenho dúvidas quanto a isso.
Sei que este combustível me move, mas digamos que ele seja muito agressivo ao meio ambiente e esteja ao pouco matando tudo a sua volta.
Do que vale o dinheiro, o que você sabe, o que você conhece, o que você fez ou quer fazer e o que você tem, se você não é capaz de amar, aceitar e perdoar?
Hoje acorde mais triste, mais vazia de sentimentos, mais seca de esperança, mais frustrada com o fracasso, mais relutante com o perdão, mais severa com a aceitação e mais, cada vez mais, distante do amor.
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